O vento traz folhas que o tempo despe,
como cartas sem destino a flutuar.
Cai a tarde em tons de barro e orvalho,
que a terra, em segredo, aprende a guardar.
O outono chega, desnuda o encanto,
e as árvores, tristes, confessam ao vento:
Somos raízes do mesmo desterro,
somos silêncio onde canta o lamento.
Sou um só, sem estar sozinho:
em mim acenam os que o outono apagou.
Os sem nome, os de mãos calejadas,
os que a história, em silêncio, negou.
Eis o chão que não escolhe sapatos,
o rio que bebe o pranto e o suor.
A pátria é esta voz que não tem dono,
é o canto que nasce da mesma dor.
Mas vejam comigo! Das ruínas do frio,
Se ergue um lustre de vozes no ar.
Não são reis, não são heróis de mármore,
são as mãos que sabem semear.
O povo de baixo, tecelão da aurora,
tece a luz que os palácios não veem.
Cada passo seu é um verso no chão,
cada pranto, um rio que flui para além.
Moderam o mundo com melodia,
não com espadas, mas com pão.
Harmonia é a lei que não se escreve,
é o abraço que cura a divisão.
Humanidade, minha pátria sem fronteiras,
o teu nome é plural, o teu cheiro é mar.
Em ti, o exílio vira lar,
e o lar é onde todos podem ficar.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
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